quarta-feira, novembro 15, 2006

Moiras num jardim ao anoitecer

Páro num largo ajardinado onde há um busto de bronze.
Entardece. No ar afogueado, as flores recortam-se nítidas e coloridas. Por um instante os ruidos cessam.Sequer o motor de um carro ao longe.
Suspensa, a vila inquieta-se na luz magoada e doce da noite que desce.Passam por mim mulheres sem nome, nem vida que eu conheça.Passam fugazes, leves, e nem lhes oiço o rumor do passo.Apenas corpos delgados, rostos de olhos negros, profundos.O mistério adensa-se com o cair da noite.Vem-me à lembrança a lenda das moiras encantadas, que ouvi quando jovem:longíqua e veemente, ressoa ainda a voz que implora de amor junto à cisterna:
- Cássima!...

Manuel da Fonseca in Crónicas Algarvias

1 comentário:

Al.Jib/Gabriela R. Martins disse...

felicísima esta escolha de Manuel da Fonseca ... um alentejano que bem soube "olhar/amar" o Algarve e sobre ele escrever

e a lenda

fica.nos o encanto de a imaginar/recriar

um beijo ,miúda!